Cursinhos de Louveira e da região se uniram em um coletivo para mostrar o descontentamento com a realização do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem 2020. Em carta aberta à população, os cursinhos Focus, de Louveira, Para Todos – de Campo Limpo Paulista, Olga Benário – de Itupeva, Carolina Maria de Jesus, Chico Poço, Profa. Miriam Cardoso e Sirius – todos de Jundiaí, Para Todos – de Várzea Paulista e Cursinho Popular – de Vinhedo, mostram a insatisfação sobre como está sendo planejada a prova deste ano, afetada pela pandemia de Covid-19.

Com a proposta de aplicar provas online e também presenciais, os cursinhos orientam seus alunos para se inscreverem nas provas presenciais já que as provas digitais iriam confrontar com as datas de importantes vestibulares. O Ministério da Educação, verificando o erro, alterou as datas das provas. A previsão inicial era que acontecesse nos dias 11 e 18 de outubro deste ano. Agora, o modelo deve acontecer em 22 e 29 de novembro.

A coordenadora do cursinho de Louveira, Ana Sílvia Giacomelli, explica que não são contra o Enem 2020. “Particularmente não defendo o cancelamento do Enem porque desta forma garantiríamos esta forma democrática de ingresso do aluno da escola pública para as universidades”, afirma.

Aos alunos de Louveira que vão prestar Enem 2020, o cursinho Focus orientou a fazerem a inscrição na modalidade presencial. A carta e as orientações dos cursinhos foram feitas antes do MEC reparar seu erro em relação às datas das provas.

A carta também faz importantes considerações sobre as dificuldades dos estudantes deste tipo de cursinho, que tem caráter popular e é gratuito, atendendo quem não tem tanto recurso disponível para estudar. “Ao privilegiar as plataformas digitais, sem garantir as condições de infraestrutura necessárias para o seu efetivo uso, como acesso a uma internet gratuita e de qualidade, distribuição ou subsídio para a aquisição de equipamentos eletrônicos como computadores e tablets para o acesso remoto, o governo promove mais exclusão que inclusão e amplia ainda mais as desigualdades existentes. Assim, as pessoas em maior situação de
vulnerabilidade tendem a ser as mais prejudicadas num sistema de EaD (Educação a Distância)”
, diz o texto.

O descontentamento com o Enem repercutiu e o Ministério da Educação, além de alterar as datas, informou nesta terça-feira (19) que vai ouvir os estudantes mas de forma online. De acordo com informações publicadas na página no MEC, os estudantes que se inscreverem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 vão poder opinar sobre a data de realização da prova. O Ministério da Educação (MEC) fará uma consulta com os inscritos na última semana de junho.

Os estudantes serão consultados pela Página do Participante, que reúne todos os serviços que os candidatos precisam ter acesso antes e depois da realização da prova. Nesse espaço, o estudante tem acesso, por exemplo, a dados como local e horário de prova, opção de língua estrangeira optada pelo candidato, além de conferir o resultado individual e o espelho da redação.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao MEC responsável pela prova, a versão digital das provas já atingiu 100 mil inscritos, isto é, todas as vagas para a primeira aplicação desse modelo foram preenchidas. As inscrições vão até o dia 22 de maio.

Conforme edital, o Enem impresso tem as datas de realização marcadas para os dias 1º e 8 de novembro. Tanto na versão impressa quanto na digital, os participantes farão provas de linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; e matemática e suas tecnologias, com 45 questões de múltipla escolha em cada área de conhecimento. A redação será manuscrita, em papel, nas duas modalidades.

Confira carta dos cursinhos populares de Louveira e região:

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO – PELA EQUIDADE E IGUALDADE NA EDUCAÇÃO

“Se nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.“ (Paulo Freire)

O Coletivo de Cursinhos Populares do Aglomerado Urbano de Jundiaí, através desta carta aberta, manifestamos o seu descontentamento em relação à manutenção das datas de realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) defendida pelo Ministério da Educação.
O isolamento social, que se faz necessário para o controle da pandemia do COVID-19, alterou não só a vida cotidiana de todos nós como também prejudicou as nossas atividades educacionais e consequentemente a preparação de nossos alunos que fazem parte do sistema público de ensino.
É sabido que categorizar os jovens como um grupo homogêneo é camuflar as diferenças e ignorar a diversidade de ‘juventudes’ que vivenciam e experimentam o mundo a partir de suas realidades materiais. Ao privilegiar as plataformas digitais, sem garantir as condições de
infraestrutura necessárias para o seu efetivo uso, como acesso a uma internet gratuita e de qualidade, distribuição ou subsídio para a aquisição de equipamentos eletrônicos como computadores e tablets para o acesso remoto, o governo promove mais exclusão que inclusão e amplia ainda mais as desigualdades existentes. Assim, as pessoas em maior situação de
vulnerabilidade tendem a ser as mais prejudicadas num sistema de EaD (Educação a Distância).
Diante deste cenário, com a suspensão das aulas presenciais e adoção do sistema de Educação a Distância, majoritariamente baseado em plataformas digitais, tornou-se perceptível o que nós já sabíamos: o acesso à educação no Brasil não é igualitário e não há equidade nas ações promovidas pelos dirigentes do Estado brasileiro. Há uma grande diferença de condições materiais entre os jovens brasileiros e em especial os que frequentam a rede pública de ensino.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é o principal meio de democratização e acesso ao ensino superior das universidades públicas federais além de ser critério decisivo para a conquista de outros auxílios estudantis, como o PROUNI. Vale lembrar que as ações referentes a Educação, adotadas pelos governos tanto na esfera federal, estadual e municipal devem estar em consonância com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que assegura “a realização de atividades educacionais que possam ser efetivadas de forma que se preserve o padrão e a
qualidade” e que “se adequem as peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino.” A LDB não vincula o Ano Letivo ao Ano Civil. Portanto, há respaldo legal para que a data das provas do ENEM e as atividades escolares sejam remanejadas.
Aproveitamos esta carta para estreitarmos os nossos laços de amizade e acolhimento para com toda a comunidade de alunos que assistimos em nossos cursinhos através das palavras vibrantes e calorosa do Prof. Rafael Galeoti: “Estamos aqui, abraçando (virtualmente), sorrindo, lutando
como nunca e trabalhando como sempre, na busca pela preparação de nossos alunos. Que esta carta sirva de acolhida para eles e que eles enxerguem nestas linhas nossa força e nossa garra.
Jamais desistiremos de vocês. O ano de 2020 não se perdeu. Independente das decisões finais acerca do dia da prova, INSCREVAM-SE NORMALMENTE PARA O ENEM, em sua versão presencial (a data da prova digital coincide com a Primeira Fase da USP e UNICAMP). Vamos lotar as salas de prova, sabendo sim das pedras encontradas no caminho, mas com a alegria de tê-las superado com toda força e amor. Estamos, e sempre estaremos, aqui para abraçar, sorrir e também para trabalhar e construir um movimento de luta.” Cursinhos: Para Todos (Campo Limpo Pta.); Olga Benário (Itupeva); Carolina Maria de Jesus, Chico Poço, Profa. Miriam Cardoso e Sirius (Jundiaí), Focus (Louveira); Para Todos (Várzea Pta.) e Cursinho Popular (Vinhedo).