Andressa Alencar tem 23 anos e sonha em viajar o mundo. Fã de Chico Buarque, a jovem acaba de conquistar um novo emprego e tem metas traçadas: cursar faculdade de Educação Física e morar na Nova Zelândia, entre outros desejos comuns entre pessoas de sua idade. Porém, a garota de sorriso largo e falante e que hoje acredita que seus sonhos podem se tornar realidade traz na trajetória uma luta vivida por milhares de adolescentes, jovens e adultos: o combate aos problemas de saúde de mental e a constante batalha para se manter saudável e usufruir de uma vida normal em sociedade.

A história de Andressa, que desde novembro de 2020 é atendida pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Louveira, ilustra com êxito o resultado de uma luta iniciada em 1987, quando, em busca pelo fim dos manicômios, profissionais de diferentes áreas elaboraram o documento final da 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental no Brasil, que teve como principal objetivo garantir que pessoas com transtornos mentais pudessem ser tratadas em liberdade.

O fato deu origem ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrada anualmente neste dia 18 de maio para conscientizar a população sobre a importância do acolhimento e da necessidade do cuidado e tratamento adequado, que garanta às pessoas com sofrimento mental o direito ao convívio social.

Trajetórias e conquistas

Diagnosticada com transtornos mentais durante a adolescência, Andressa chegou a Louveira em 2020 vinda de Teresina (PI). Aqui, descobriu que, diferente do que viveu em sua cidade natal, onde permaneceu internada em instituições psiquiátricas, era possível, com acompanhamento médico adequado, enfrentar os sofrimentos impostos por sua condição de saúde.

“Lembro que eu era outra pessoa quando cheguei ao CAPS. As pessoas em minha cidade não acreditavam nos problemas que eu dizia sentir. Lá, nem ao banheiro eu podia ir sozinha. Hoje, com o tratamento que recebi e recebo aqui, me vejo independente, autônoma e com muitos objetivos dentro de mim”, conta com um doce sorriso estampado no rosto.

Totalmente adaptada à nova rotina, Andressa conta que gosta de caminhar, cozinhar, cantar, tocar violão e pintar. Ela diz que também “ama” ouvir musica. Quando questionada sobre a sua história de vida, ela responde com a canção “Os Cegos do Castelo”, da banda “Titãs”: ” A pé até encontrar, um caminho, o lugar, pro que eu sou”.

“É uma sensação muito boa, porque apesar de ser uma música que me remete a sentimentos ruins, de quando eu não estava bem, quando ouço hoje eu vejo o quanto estou melhor, o quanto já evolui”.

CAPS

Hoje, o CAPS de Louveira atende cerca de 260 pessoas, entre pacientes que chegam por encaminhamento médico e os que buscam ajuda de maneira espontânea. No primeiro atendimento, os pacientes passam por acolhimento e uma avaliação multiprofissional que analisa se o quadro psiquiátrico corresponde ao nível de cuidados que o CAPS pode ofertar.

O atendimento humanizado é oferecido para pacientes com transtornos mentais graves persistentes e decorrentes de álcool e outras drogas. No CAPS, os multiprofissionais desenvolvem atividades coletivas nas áreas de educação, trabalho, esporte, cultura e lazer com jovens e adultos.

Roberta Sannomya Guerra, coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial de Louveira afirma que é necessária uma mudança cultural para eliminar da sociedade o conceito de que todo paciente psiquiátrico é perigoso.

“Temos que dissolver e extinguir os preconceitos e estigmas contra o comportamento desviante, inesperado, esquisito, ou simplesmente diferente. Extinguir a idéia de que todo paciente psiquiátrico representa risco, que é incapaz civilmente, de que é incapaz de viver bem em sociedade. É nesta batalha, pela mudança de paradigmas, que se encontra o significado do Dia da Luta Antimanicomial. Dia que marca o direito das pessoas com transtornos mentais de serem cuidadas em liberdade, na comunidade, em seu território”, ressalta.

Transtornos mentais

De acordo com dados da Secretaria de Saúde de Louveira, a pandemia tem agravado o quadro de pessoas que já sofrem com transtornos e aumentado o número de novos casos. Por isso, ao identificar possíveis sintomas, é fundamental procurar ajuda.

“Agora, com o isolamento social, se expressar, socializar sentimentos, compartilhar experiências e, mais do que isso, encontrar espaços de interação em um momento completamente novo para todo mundo, tornou-se complexo e tem afetado o tratamento e a vida das pessoas. Precisamos ficar atentos, principalmente com as pessoas que amamos. Muitas vezes o diálogo é peça fundamental nestes processos”, reforça Caroline Cruz, gestora do CAPS.

O CAPS funciona de segunda a sexta, das 7h às 17h na Rua Capitão Álvaro Pereira, 55, Vila Bossi. O telefone para contato é (19) 3878-0926.