A Prefeitura de Louveira lança, no próximo dia 27 de novembro, um ambicioso projeto para despoluir o Rio Capivari no trecho que corta a cidade. A ação foi batizada de Projeto Tabarana, em alusão ao peixe com esse nome e que, segundo relatos históricos, era encontrado em abundância no rio em um passado recente. Hoje, ele desapareceu por conta da poluição.

O Capivari é um dos principais mananciais hídricos do município, atrás apenas do Córrego Fetá. Sua água é captada pela Secretaria de Água e Esgoto e distribuída, depois de tratada, para a população. Ele tem 180 quilômetros entre a nascente, em Jundiaí, e a foz, no município de Tietê, e passa pelos municípios de Vinhedo, Valinhos, Campinas, Monte Mor, Elias Fausto, Capivari e Rafard.

O projeto de despoluição é encabeçado pela Secretaria de Gestão Ambiental, prevê esforços de todas as secretarias municipais e conta com o envolvimento da população. Foi concebido com etapas de execução de curto, médio e longo prazo, já que envolve ações imediatas e também medidas que demandam mais tempo para serem viabilizadas.

Descarte irregular

O despejo irregular de esgoto é a principal causa do comprometimento da qualidade da água do Capivari. Em geral, esses lançamentos são feitos a partir de ligações clandestinas que ficam em áreas irregulares.

Para a despoluição, a Prefeitura já está trabalhando para identificar essas ligações clandestinas e interromper o descarte. A previsão é de que o trabalho seja efetivado até 2025 e o descarte irregular seja reduzido de forma significativa ao longo desse período.

Além de reduzir esses lançamentos, o projeto de despoluição prevê também investir para preservar a mata ciliar do rio e das nascentes do seu entorno e recuperar essa mata em trechos onde isso for possível. Essas ações serão coodenadas pela Secretaria de Gestão Ambiental.

O projeto prevê mapear também as famílias que vivem às margens do rio e iniciar um trabalho de conscientização ambiental sobre a importância de preservar as águas do Capivari. Essa ação será realizada pela Secretaria de Assistência Social e deve começar ainda neste ano.

“Ações entre as diferentes secretarias da Prefeitura terão como objetivo a educação ambiental da população, incluindo as pessoas que vivem próximas ao rio, para sensibilização e criação de um sentimento de pertencimento do seu espaço. Dessa forma, esperamos que essas pessoas reconheçam a importância dos recursos hídricos naturais e nos ajudem na sua preservação”, disse a secretária de Gestão Ambiental, Rose Celidonio.

Lançamento

Na cerimônia de lançamento do projeto, no dia 27 de novembro, na Estação Ferroviária, serão apresentados os detalhes de sua execução. O evento está marcado para começar às 8h30.

Em seguida, será realizado um mutirão de limpeza e coleta de resíduos num trecho entre a Estação Ferroviária e a Fazenda Santo Antônio (duas importantes referências culturais e históricas da cidade).

Qualidade da água

Na prática, o objetivo inicial do Projeto Tabarana é a recuperação da classificação de enquadramento do Rio Capivari, que hoje se encontra na Classe 3, que é apenas a quarta melhor em uma escala de cinco níveis, de acordo com a Resolução 357 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

Segundo a secretária de Gestão Ambiental, com o Capivari limpo será possível reduzir os custos do tratamento da água distribuída para a população e até aumentar o volume de captação.

“Com um rio de águas limpas, Louveira ganha também em qualidade ambiental e sustentabilidade. Além disso, a fauna silvestre utiliza desses córregos para beber água e vai ser beneficiada. Teremos ainda o retorno da ictiofauna (dos peixes)”, afirmou.

Uma água de classificação 3 como a do Capivari tem mais restrições de uso do que as classes 2, 1 e Especial, que são melhor avaliadas devido aos menores índices de poluição detectados.

Na Classe 2, as águas podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento simples/convencional e também para recreação de contato primário, como natação e prática de atividades como esqui aquático e mergulho. Além disso, podem ser também destinadas à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, além de parques e jardins com os quais o público possa ter contato direto.

Já na Classe 3, a água para consumo humano precisa de tratamento mais avançado, a irrigação só está permitida para culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras e a recreação é liberada com restrições, especificamente em casos de contato secundário (veja mais sobre as classificações no final deste texto).

Entre as ações previstas pelo projeto estão:

Secretaria de Água e Esgoto: plano de regularização de lançamentos irregulares de esgoto com cronograma já em execução e com ações programadas até 2025;

Secretaria de Gestão Ambiental: trazer conhecimento técnico e propostas de reintrodução e enriquecimento da ictiofauna local (conjunto de peixes de uma região ou ambiente).

Secretaria de Educação: ações junto aos professores de arte para conhecimento do assunto e desenvolvimento de ações junto aos alunos da Rede Municipal de Ensino;

Secretaria de Cultura: responsável pela identidade visual oficial do projeto, desenvolvimento de vídeos e demais ações culturais; históricos da existência do peixe tabarana no passado em Louveira;

Secretaria de Assistência Social: responsável pelo envolvimento dos grupos e associações e desenvolvimento de projetos junto ao público em geral. Propostas futuras de inclusão produtiva;

Secretaria de Desenvolvimento econômico: com a participação da Divisão de turismo, responsável por dar visibilidade do Projeto Tabarana aos turistas, nos eventos realizados no Município onde há grande circulação de pessoas de fora; históricos da existência da tabarana no passado em Louveira;

CLASSIFICAÇÃO DOS RIOS

O que é enquadramento dos corpos hídricos?

“É o estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo.”

O que é classificação dos corpos hídricos?

“É a qualificação das águas doces, salobras e salinas em função dos usos preponderantes (sistema de classes) atuais e futuros.”

O que é classe de qualidade?

“É o conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes atuais e futuros.”

Classes de qualidade de águas doces superficiais

CLASSE ESPECIAL, águas destinadas a(o):

– abastecimento para consumo humano, com desinfecção;

– preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;

– preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral.

CLASSE 1, águas que podem ser destinadas a(o):

– abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;

– proteção das comunidades aquáticas;

– recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho), conforme CONAMA 274/00;

– irrigação de hortaliças consumidas cruas e de frutas (rente ao solo) e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película;

– proteção das comunidades aquáticas em terras Indígenas.

CLASSE 2, águas que podem ser destinadas a(o):

– abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;

– proteção das comunidades aquáticas;

– à recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho), conforme CONAMA 274/00;

– irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, parque e jardins e outros com os quais o público possa vir a ter contato direto;

– aqüicultura e à atividade de pesca.

CLASSE 3, águas que podem ser destinadas a(o):

– abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;

– irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

– pesca amadora;

– recreação de contato secundário;

– dessedentação de animais.

CLASSE 4, águas que podem ser destinadas à:

– navegação;

– harmonia paisagística.

Fonte: Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo

O peixe tabarana

Tabarana, cujo nome científico é Salminus hilarii, é um peixe carnívoro do topo da cadeia alimentar.

Ele se alimenta principalmente de pequenos lambaris. Em média, atinge 35cm e pesa em torno de 1 quilo. Se dá bem em águas cristalinas e rasas e só é encontrado em rios preservados e com matas ciliares intactas.

A espécie é comum na calha de rios nos trechos de correnteza. A época de maior visibilidade da espécie é durante o Verão, quando as águas estão mais claras, antes do período de chuvas.

O Rio Capivari

O Rio Capivari nasce em Jundiaí, na Serra do Jardim, a uma altitude de 750 metros, e deságua no Rio Tietê, na cidade do mesmo nome, no Interior de São Paulo.

Ele tem cerca de 180 km entre a nascente e a foz e corta os municípios de Louveira, Vinhedo, Valinhos, Campinas, Monte Mor, Elias Fausto, Capivari e Rafard antes de chegar a Tietê.

O nome Capivari é de origem tupi e significa capivaras, que são roedores de grande porte que ainda podem ser encontrados em suas margens.

Seus principais afluentes são o Ribeirão Sapesal, Córrego Piçarrão, Areia Branca, Rio Capivari-Mirim e Córrego Água Choca.