Oferecer um lar temporário para um animal que precisa é oferecer um lugar para ele passar com segurança até ter sua família de verdade, ser adotado e nunca mais ser abandonado ou sofrer maus tratos.
Para mim, que sempre faço este trabalho (voluntário, sem remuneração, só trabalho mesmo) é difícil deixar um bichinho ir para outra casa. Afinal, abri meu lar, ainda que temporariamente, mas tive minha casa inundada de amor por estes peludinhos. Como assim eles vão embora e vão levar este amor para outro lugar?
Mas estou aprendendo a deixar ir e serem felizes, compartilhando e multiplicando este amor.
O primeiro ‘lar temporário’ que me lembro foi de um hamster, que ia ficar em casa até ir pra outro lugar. Viveu alguns anos comigo. Ele foi achado na rua, veio parar na minha vida e ficou comigo até seu último dia.
Neste período, vieram quatro gatinhos. Morava num apartamento com minha irmã, que já tinha um gato, e ficamos assim: cinco gatos e um hamster.
Os bebês vieram tão pequenos e foi necessário dar mamadeira, fazer massagem para que eles fizerem suas necessidades e ajudar para que começassem a comer ração. Neste processo, claro, o amor cresceu muito. Quando consegui doar o primeiro gatinho dos quatro, já começaram as dificuldades em ‘deixar ir’.
Claro que tínhamos que escolher pessoas responsáveis e por isso não saímos entregando gatinhos por aí. Enfim, destes 4 gatos, dois vivem até hoje com minha irmã.

O golpe do Lar Temporário

Quem se oferece para ficar temporariamente com um animal sabe bem deste golpe. Eu mesma aplico em mim. Em 2020 fui morar sozinha e em 2022 fiquei como ‘lar temporário’ de mais quatro gatos. Uma jovem mãe e três bebês. Paixão desde o primeiro momento que vi estas fofuras. Resultado: dos 4 gatos, dois estão comigo.
Meu amor pelos bichos é de anos. Tive a alegria de viver 15 anos com o Cebolinha, um gatinho maravilhoso que cuidamos na mamadeira, e também 15 com a Juju, uma gatinha que apareceu prenha – e conseguimos doar todos os filhinhos.
Foram 16 anos seguidos com esta dupla. Quando virei ‘lar temporário’ em 2022, estava há três anos de luto pela morte do Cebolinha e há dois pela morte da Juju. Parecia traição ter outro animal, mas Catarina chegou com seus filhos e o amor cresceu.
No final de 2022, encontrei uma gatinha bebê com os dois olhos furados. Não pensei muito e virei ‘lar temporário’ para esta fofinha. Achei alguém interessado em adotar uma gata cega, mas não consegui deixar a pequeninha ir. Assim, mais uma vez cai no meu próprio golpe do lar temporário. A gata virou a Kátia Cega e meu xodó.
Achei que nunca conseguiria doar animais porque fico muuuuuuuito apegada a eles – assunto que podemos tratar em breve.
Mas finalmente passei a ter sucesso como lar temporário.

Um lar temporário, um amor eterno

Por mais que queira ficar com todos os animais que encontro pelo caminho – e já encontrei até uma tartaruga – sei que não posso. Não posso financeiramente fala-ndo e também pelo trabalho que ter bichinhos nos dá.
Mesmo se tivesse muito dinheiro e pudesse me dedicar exclusivamente a cuidar deles, brincar, alimentar, escovar, limpar, acho que não poderia ficar com todos.
Não só por mim, mas também por eles. Cada um merece ter sua família. Ainda assim, não consegui cortar os laços com os animas que fui ‘lar temporário’. Ainda assim, considero que hoje em dia tenho sucesso como lar temporário e estou há um ano sem adotar nenhum animal que recebo nesta modalidade de temporário.
O que mudou para meu sucesso? Acho que o fato de em casa não ter mais como fazer lar temporário e para isso estou usando a minha sala de trabalho. Isso mesmo. A redação do Acontece Louveira é usada para abrigar animais que precisam.
Já passaram alguns gatos – a Narizinho, que ficou aqui para podermos castrar, a Margot que ficou tempo comigo e me apaixonei, mas ela foi adotada, e o Sonic, que havia fugido mas logo encontramos a tutora – e também cachorros.
Foram dois: João, um cão muito medroso, que tremia e ficava o tempo todo encolhido, e o Zé, uma fofura que está neste momento em busca de uma família e é esta lindeza que vocês podem conferir nas fotos.
A adoção do João – que hoje se chama Jorge – me fez muito feliz! Mesmo eu tendo chorado quando estava perto dele ir embora. Foram muitos dias juntos e ele criou um laço, mesmo que pequeno, comigo. Me deixou fazer carinho, chegar perto, mesmo ainda tendo medo. E hoje tem uma família de amor, que teve paciência para ajudá-lo a se tornar um cão mais confiante e aprender o que é o amor.
Por aqui, aprendi muito sobre amor com ele e, mesmo não sendo exatamente um lar, nem de longe foi temporário. Para quem ama os animais, abrir as portas da sua casa, do seu trabalho, às vezes do banheiro do fundo, da garagem, mas em especial do seu coração, é uma forma de realmente praticar este amor aos animais e salvar vidas: a do bichinho, a nossa e dos adotantes.
Recomendo fortemente que você também seja ‘lar temporário’ de um animal e seja sempre um lugar de amor eterno aos bichos.

Marília Porcari
Jornalista do Acontece Louveira e apaixonada pelos animais

Obs: Se quiser adotar o Zé, manda mensagem! (11) 99563-0135